Eu prefiro ouvir a tua voz embriagada ou o som da tua respiração submersa em mim. Eu prefiro a lascívia à compaixão. Eu prefiro sentar no teu colo e nunca dizer uma palavra. Eu prefiro que você deixe o meu celular afundar na água. Eu prefiro ver a tua imagem cristalizada nos corredores que você já não frequenta. Eu prefiro fingir sono. Eu prefiro pensar que somos semelhantes. Eu prefiro que você não saiba. Eu prefiro ser outra pessoa. Eu prefiro o teto às estrelas. Eu prefiro acender o desejo. Eu prefiro que você não veja nada. Eu prefiro alguém que reafirme aquilo que já sei. Eu prefiro ser mau. Eu prefiro o cristal à sacristia. Eu prefiro um discurso ininteligível. Eu prefiro acordar sozinho. Eu prefiro um tapa. Eu prefiro o apreço de mestres. Eu prefiro que você se engane. Eu prefiro crer que não se envelhece. Eu prefiro não crer. Eu prefiro acessar a realidade imóvel. Eu prefiro ser melhor que o teu namorado. Eu prefiro observar os teus olhos à espreita. Eu prefiro o abandono. Eu prefiro a varanda. Eu prefiro um diálogo superficial. Eu prefiro acreditar que não mereço. Eu prefiro rir das tuas fantasias medíocres. Eu prefiro perceber que não sou. Eu prefiro saber que você é especial. Eu prefiro ser comum. Eu prefiro ler cem livros por ano. Eu prefiro ser dançarino numa casa noturna. Eu prefiro negar o orgulho. Eu prefiro a ilegibilidade. Eu prefiro a distância. Eu prefiro tomar um banho e dormir. Eu prefiro que você encaixe. Eu prefiro não me reconhecer no álbum de fotografias. Eu prefiro o desconhecido. Eu prefiro dar o que você precisa. Eu prefiro que os ciganos leiam a palma da minha mão. Eu prefiro que você queira repetir outra vez. Eu prefiro não ter alma. Eu prefiro atenuar a vibração das tuas cordas vocais e elevar o seu humor antes do café da manhã. Por favor.
