Faço uma panqueca de aveia com banana e melado para o seu café da manhã. Escrevo-te cartas e dedicatórias datadas. Aos sábados cozinho legumes assados com azeite e pimenta-do-reino para o nosso almoço. Borrifo o meu perfume nos suéteres que te empresto ou presenteio. Organizo uma playlist com músicas que carregam palavras que nunca consegui dizer ou escrever para que você ouça. Empresto a você os meus livros favoritos e finjo esquecimento. Passo as suas roupas e dobro-as num formato simétrico que se adeque perfeitamente às suas gavetas. Experimento alguma coisa pela primeira vez contigo. Convido-te para ir a um sebo que você não conhece e te peço para escolher um livro. Finjo que vou ao banheiro e pago a conta do bar. Expresso uma verdade forjada e sorrio. Reviso a gramática e a coerência de um texto seu. Levanto-me da mesa e fumo um cigarro do seu maço a uma distância que me conserve visível. Deixo uma pizza do seu sabor favorito em cima da mesa num dia que você chega tarde e eu não pude cozinhar. Escuto os seus áudios repetidas vezes reclamando que eles ultrapassam o meu tempo tolerável de um minuto. Atento-me às suas explicações sobre jogos eletrônicos. Reescrevo o seu parágrafo mal escrito. Presto atenção às palavras que você não diz. Recuso àqueles que desejam a minha companhia e continuo te ajudando a consertar a sua bicicleta. Incluo Au Pan Coupé na sua watchlist sem esperar que você assista. Anuncio todas as suas qualidades clandestinas aos meus amigos. Envio uma mensagem bonita numa terça-feira às 13:03. Assisto ao seu programa favorito porque você não quer ver sozinho. Armo uma briga com o barista que te tratou mal. Elaboro um e-mail convincente para resolver um problema seu com o convênio. Uso um bom hidratante corporal para me manter macio ao toque das suas mãos. Mantenho-me imóvel na cama para que você tenha o seu espaço íntegro. Digo o porquê de White Sands ser a minha música preferida. Espero pelo dia em que vou poder te pedir algo em troca. Bebo uma dose pela existência que não chegará.
